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Tutorial de escrita: dicas e conselhos para novos autores (parte I)

 

Quem sonha em escrever um livro tem sempre uma tormenta inicial: serei eu capaz? Terei a veia artística que me permite escrever algo de interessante? Na maioria das vezes, idealizamos o escritor como alguém que nasceu com um talento raro e que combina as palavras sem esforço. No entanto, se certo é que os génios existem, também é verdade que escrever é uma arte que se aperfeiçoa, como todas as outras. Na literatura, como nas restantes áreas artísticas, existem algumas técnicas e dicas que podem ajudar a estruturar as nossas ideias e a transformá-las no produto final. Este tutorial apresenta algumas delas, focando-se na escrita de ficção e no romance em particular.

 

Começando: a inspiração e a esquematização

Tudo o que acontece à nossa volta pode servir de inspiração para escrever. Se olharmos com atenção para as estantes que nos rodeiam, vemos que a maioria dos temas literários são repetidos: histórias de amor, personagens do fantástico, crimes e espionagem, entre outros. Por isso, o nosso olhar sobre o tema do livro é mais importante do que o próprio tema em si. O escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre dizia que “não se é escritor por ter escolhido dizer certas coisas, mas sim pela forma como as dizemos”. A chave para um bom livro não está tanto no tema em si, mas sim na tensão, no ritmo e na intensidade das personagens que o caracterizam. Para o leitor é importante não só encontrar personagens interessantes, mas sentir também que o ritmo e a tensão crescem à medida que o enredo avança. É o agravar da situação que faz o leitor querer virar a página. Mas, afinal, como começar?

 

O primeiro passo é esquematizar as nossas ideias, isto é, colocar no papel os principais acontecimentos e personagens que imaginamos para o nosso enredo. As primeiras páginas de qualquer livro são extremamente importantes, pois têm o poder de cativar ou o desinteressar o leitor e o editor. Se seguirmos a estrutura de um enredo clássico, podemos organizá-lo de acordo com as seguintes etapas:

 

1. O início com um ponto de equilíbrio: aqui apresenta-se a personagem principal a quem deve acontecer algo sem o qual a história do livro não poderia avançar.

 

2. Entramos assim na fase do conflito, ou seja, algo que aconteceu e que veio perturbar a vida do protagonista; a título de exemplo: uma viagem, uma morte, uma tempestade, um assalto ou o simples aparecimento de alguém. Pode ser um acontecimento completamente casual ou até desencadeado pelo próprio protagonista, desde que tenha consequências sobre o seu comportamento.

 

3. O conflito desencadeia a ação, isto é, obriga o nosso protagonista a reagir à situação que lhe surgiu.

 

4. Mas, não sendo isso suficiente para alimentar todo um livro, é necessário que à ação se sigam a reviravolta e a complicação: não basta que o protagonista reaja a um único conflito inicial, é necessário continuar a introduzir reviravoltas na sua vida pois é isso que permite que a ação avance. Estas etapas criam surpresa e curiosidade no leitor, ao mesmo tempo que obrigam a uma mudança de rumo na história.

 

5. A trama deve complicar-se com a precipitação dos acontecimentos, dando origem ao clímax.

 

6. Este irá desembocar na resolução que corresponde ao fim da história. O final deve ser coerente e consequente, ou seja, por um lado não devemos introduzir questões ou personagens que não tenham sido anteriormente desenvolvidas ao longo do enredo e, por outro lado, tem de ser consistente com a promessa implícita que fizemos no início do livro.

A passagem entre cada uma destas fases deve representar um ponto de viragem na história. Atualmente, a maioria dos romances começa diretamente com um conflito.

 

Descrever: cenários e personagens

Ao escrever, há que ter sempre em conta que o leitor gosta de aprender algo com a obra. Essa aprendizagem não está apenas ligada ao tema, mas também à forma como descrevemos os cenários e as personagens do nosso enredo. Por exemplo, se eu estiver a escrever um romance histórico que tem lugar em Paris no século XIX, o leitor vai gostar de saber como se vivia nesse local nessa época. O objetivo é criar imagens mentais no leitor, transportando-o para o mundo que estamos a retratar. Não basta dizer onde se passa a ação, é necessário descrever os locais fazendo uso dos cinco sentidos: tentar reproduzir os sons das ruas, o aroma e o sabor da comida, ou os detalhes das roupas e do mobiliário da época.

No que diz respeito às personagens, o escritor deve aprender a ser um ator, isto é, a encarnar as vivências e os sentimentos das suas personagens. Podemos descreve-las de diferentes formas, mas não devemos nunca ficar-nos pelos estereótipos e pelo óbvio. Há que levar as personagens ao psicanalista, explorar os seus medos e inseguranças e encontrar as motivações do seu comportamento. Existe uma dica que pode ajudar a tornar a ação mais interessante e que é conhecida como “show, don’t tell”. O que significa isto? Que há uma diferença entre “mostrar” e “dizer” e que devemos optar pela primeira opção. Por exemplo, para descrever uma personagem eu posso simplesmente dizer: “o José é um homem corajoso”. No entanto, se escolher colocar o José a salvar alguém de um prédio em chamas estou a mostrar, de uma forma muito mais interessante, que o José é um homem corajoso, em vez de me limitar a escreve-lo diretamente.

Samuel Johnson, um dos grandes escritores ingleses do século XVIII afirmava que "a maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro". A pesquisa é uma ferramenta importante na descrição de cenários e na construção de personagens. Pesquisar em obras do mesmo género, na internet, em documentários ou através de entrevistas e visitas ao terreno ajuda a criar um ambiente mais realista e detalhado no nosso enredo.

 

Reescrever e finalizar

A reescrita é a fase final do processo criativo. Alguns autores preferem deixar repousar os seus textos por uns tempos antes de voltar a efetuar-lhe alterações e a distância temporal pode, de facto, ajudar-nos a melhorar a qualidade do nosso texto. Não se trata aqui de modificar o tema do livro ou de transformar por completo a sua estrutura, mas sim de realizar adaptações, incluir novos detalhes, rever a gramática ou enriquecer o vocabulário. Entre outros acabamentos da ficção destacam-se ainda dois outros passos:

 

1. A redação da sinopse que, no fundo, é já um trabalho de marketing pois corresponde ao texto que deve ser enviado para as editoras. A sinopse deve ser simples e direta, relatando o essencial e objetivo. Deve estar tão bem escrita quanto o livro e transmitir o que torna a nossa história diferente e única em relação às restantes.

 

2. A confirmação do título do livro, que normalmente é feita em conjunto com o editor, uma vez que o título é o primeiro contato entre o livro e os seus leitores.

 

Acima de tudo, escrevam sobre aquilo que gostam, o que vos faz mexer e o que vos motiva. Agora que o livro está pronto, regressamos daqui a 15 dias com um novo tutorial sobre o que fazer para a sua publicação. 

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