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Tutorial de criação gráfica de uma personagem por Santy Gutiérrez
O ilustrador Santy Gutiérrez brinda-nos com um tutorial simples, mas revelador, sobre o trabalho de criação gráfica de uma personagem; uma informação valiosa para todos os artistas gráficos da nossa comunidade, com um vídeo que mostra, de forma acelerada, este processo criativo.
Santy Gutiérrez, oriundo da Corunha, em Espanha, e colega de Javi Montes na Estudio Baobab, possui uma ampla experiência como desenhador, humorista gráfico e ilustrador editorial, e tem trabalhado com diversos meios de comunicação e instituições públicas e privadas. Para além disso, é presidente da AGPI (Associação Galega de Profissionais da Ilustração, no original: Asociación Gallega de Profesionales de la Ilustración). Recomendamos que visitem a sua página página web: http://www.santygutierrez.com/.
Nos anos de experiência que levo a desenhar, constatei que para aqueles que não trabalham na área, ver alguém capturar uma imagem no papel é algo de fascinante, como se a sorte ou uma estranha magia invocadas pelo artista fossem responsáveis pela aparição do desenho. Ver desenhar pode produzir no espetador uma mistura curiosa de incredulidade e admiração.
É certo que todo o processo de criação artística parece ter algo de sobrenatural, algo de subtil e abstrato que tece a inspiração, a imaginação, a visualização e a materialização de uma ideia, e que contribui de forma essencial para a criação do autor. Esse “algo” é como um fio impercetível e, como cada autor tem o seu modo de pensar, de imaginar, de ver e de entender as coisas, cada um deles acaba finalmente por encontrar a sua própria forma tecer os pontos que o levam a criar algo em especifico; é isto que nos torna únicos. Mas fora essa parte indefinível e misteriosa que guia as ideias desde a alma ao intelecto, o certo é que a parte prática do ofício na qual se dá forma física à obra, pouco tem de mistério e muito de treino.
Quando o Javier me pediu este tutorial para “The Art Boulevard”, fez-me refletir sobre o assunto, já que num primeiro momento pensei que não saberia muito bem como fazer um tutorial que distinguisse o meu método de trabalho do de muitos outros profissionais, uma vez que, no final, a materialização da ideia (salvando as diferentes capacidades de cada um) é para mim um mero processo mecânico: lápis sobre o papel, tinta e cor. Isto é basicamente o que a maioria dos desenhadores faz… Contudo, cada mestre tem também os seus métodos e por isso acabei por chegar à conclusão de que certamente não existem dois processos iguais. Assim, respondendo ao pedido do Javier, e esperando que isto possa ser do vosso interesse, apresento-vos uma das formas como trabalho:
Esboço
Como é óbvio, os desenhos não nascem acabados. Antes de entrar em fases nas quais os erros se pagam, este é o momento de nos divertirmos errando. Os esboços são a busca inicial, são notas rápidas das ideias que alcançam o nível da consciência. A imagem, a composição, o plano, as formas, a história que contará o desenho… todas estas decisões são tomadas neste momento, enquanto preenchemos o livro de ensaios e modificações até que encontramos aquele que nos faz dizer “vou desenhá-lo assim”.
Lápis
Para este tutorial não realizei o processo prévio de esboço, simplesmente peguei na ferramenta e desenhei o que assim quis sair. Se desenharmos sem pensar no que vai sair, por vezes até o próprio autor se pode surpreender com o resultado no papel. Neste caso, nasceu algo bastante convencional, uma personagem normal e recorrente. Batizem-no como quiserem. Habitualmente, é muito usado nesta fase um lápis standard sobre o papel; em muitas ocasiões, nós os ilustradores inclinamo-nos a utilizar um lápis azul (talvez por nostalgia dos tempos dos primeiros filmes de animação, uma vez que é fácil eliminar o azul sem ter de apagá-lo; apagar é algo a que tenho muita aversão).
Já há algum tempo que abandonei quase por completo as técnicas tradicionais e desenho diretamente sobre uma CINTIQ 21UX. Abro um documento, escolho um pincel tipo lápis, cor azul e desenho uma layer nova. Marco as formas básicas que estabelecem o volume e o tamanho das coisas e traço em seguida o contorno que as une, adicionando finalmente os detalhes que lhe dão personalidade.
Fig. 1
Traçar a tinta
No meu caso, não faço um acabamento muito aperfeiçoado dos lápis. Outros trabalham-nos tanto que fico maravilhado, mas eu não. Gosto de preservar a frescura e, se trabalho muito os lápis, em cada fase sucessiva vai-se perdendo um pouco de espontaneidade; é uma questão de que, em cada fase, o desenho ganhe algo em vez de perder algo (o que não é muito raro, porque em muitas ocasiões ouvi colegas dizerem que gostavam mais do rascunho do que do desenho acabado). Para mim traçar a tinta é o desenho na sua expressão máxima e a etapa de que mais disfruto. Aqui permito-me acrescentar coisas que não havia marcado nos lápis, inclusive mudar por onde passo o traço. É ao pintar que realmente "desenho". Com os lápis, praticamente só componho e encaixo. É agora que defino. Como este era um desenho intuitivo, o lápis saiu bastante acabado, pelo que neste caso me limitei a escolher as linhas que valia a pena traçar.
Quando delineio os esboços com tinta, faço-o de forma muito solta e muito rápida; um controlo excessivo iria prejudicar-me, e assim resta-me a frescura. Nesta fase as minhas preocupações são onde engrossar mais os traços e onde deixá-los mais finos, onde começar um traço e onde o terminar, mas muitas destas decisões são tomadas de forma intuitiva (baseadas em anos de prática). Enfim, são coisas que me saem naturalmente. Se não gostar de algum traço, faço CTRL+Z e repito-o.
Fig 2.
Cor base
Terminada a parte de traçar a tinta, elimino o lápis azul: se era lápis que tinha scaneado, elimino o canal do azul e já está; se era lápis digital, elimino a layer em que estava a desenhar. E fico apenas com a tinta negra isolada numa layer. Numa layer à parte aplico a cor base: cores sem sombras nem volumes. Só cores planas. Procuro combinações harmoniosas, não me interessa tanto uma cor individual quanto a sua relação com as restantes; tenho em conta tons e contrastes entre cores (se não a encontro à primeira, procuro a melhor combinação, variando os valores da ferramenta em termos de tom e de saturação).
Neste desenho quero utilizar os brancos do papel como parte do estilo e por isso não coloreio toda a superfície - reservo a branco as partes que se supõe serem mais iluminadas. Mais uma vez, estas reservas a branco são intuitivas. Só se o trabalho exigir uma luz realista é que me preocupo em procurar as incidências das luzes direta e indireta sobre o objeto. Aqui os raios de luz não seguem um padrão realista, apenas estético, e crio-os ao meu critério. Ainda não sei de que cor vai ficar a t-shirt, deixo isso para mais tarde.
Fig 3.
Luzes e sombras
Neste desenho de estilo simples não procuro sombras complicadas, só colocarei algumas manchas básicas que ajudem a dar uma certa sensação de volume e tornem o personagem menos plano. Uma ou outra sombra arrojada e fica pronto. Utilizo um tom frio numa layer nova no modo multiply. Já decidi qual a cor da t-shirt, volto à layer da cor base e pinto-a.
Fig. 4
Fig. 5
Linha de cor
Em certas alturas não quero uma linha preta. Como a tenho numa layer à parte, mudo-lhe a cor para que se integre melhor nos tons gerais da imagem.
Fig. 6
Texturas
Também em certas ocasiões, se desejarmos eliminar um pouco do frio que costuma acompanhar a cor digital, podemos acrescentar alguma textura à imagem. As texturas acrescentam grão, algum ruído, modificam as cores planas, e essas imperfeições proporcionam calor. O traço de lápis colorido, as reservas de branco e as marcas das pinceladas da cor base sugerem que funcionaria bem uma textura que simulasse de alguma forma uma cor feita com aguarela ou outro meio líquido. Assim, escaneio umas guachadas em papel de aguarela e aplico-as no modo multiply ou color burn com a percentagem de opacidade que mais se adequar. Dou uma vista de olhos final, antes de aplicar a opção flatten image, para decidir se acrescento ou modifico algum detalhe. Neste caso, com um pincel suave no modo color, vario ligeiramente a cor do cabelo, o braço direito e o ombro esquerdo. Assino-o e está terminado.
Fig. 7
Fig. 7
E como costuma ser melhor ver ao vivo do que ler a descrição, deixo-vos aqui um vídeo acelerado de todo o processo:
Obrigada pela vossa paciência e atenção!
Um tutorial de Santy Gutiérrez para The Art Boulevard :)
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