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Um projeto de cooperação cultural Itália – Espanha: o grupo LRM Performance estreia o seu último trabalho no Festival Miniere Sonore 2012 na Sardenha (Itália)

Por Diana Guijarro

Quando falamos de políticas culturais europeias é comum pensarmos em tratados, convenções e outras normas diferentes. No entanto, algo está a mudar no conceito de cultura na europa, tanto institucionalmente como no que se refere às práticas culturais, especialmente no que diz respeito a novas ações culturais.

Em relação à entrevista que vos apresentamos de seguida, selecionámos alguns aspetos da política cultural europeia que consideramos bastante relevantes não só para a atividade artística e a sua proteção, mas também para a sua difusão e mobilidade. Para além disso, têm também grande relevância para alcançar uma Europa culturalmente plural.

Entre as várias ações que estão a ser levadas a cabo na UE constatamos que a cooperação entre os diversos operadores culturais (tanto empresas como artistas) é uma prioridade. Este trabalho de cooperação deve ser visto como elementar para cumprir os objetivos de difusão e desenvolvimento cultural.

Por este motivo, a Comissão da UE para o desenvolvimento de políticas culturais fixou 3 objetivos básicos:

1 – O diálogo intercultural (e assim promover a diversidade) e a mobilidade dos artistas (fundamental para criar um espaço cultural comum);

2 – A cultura deve ser entendida como um catalisador da criatividade (Estratégia Europa 2020);

3 – A europa deve adquirir um novo papel em que a dimensão cultural seja vital para os contactos entre regiões.

Como tal, é interessante mencionar programas ativos como o Plano de Trabalho para a Cultura (2011-2014), o Livro Verde sobre as potencialidades das indústrias culturais e criativas (ICC) no qual se apresentam novos espaços para experimentação, inovação e mobilidade de obras e artistas e, por último, o Programa Cultura (2007-2013) gerido pela Agência Executiva da UE para o âmbito educativo, audiovisual e cultural.

Para mostrar um exemplo concreto apresentamos um projeto transfronteiriço entre Itália e Espanha: a coprodução entre o LRM Performance, um grupo artístico espanhol, e a Heuristic, uma associação cultural italiana com sede na Sardenha e organizadora das cinco edições já realizadas do Festival Miniere Sonore.

Esta cooperação teve como fruto, no passado mês de Dezembro, a elaboração e apresentação no Teatro Antonio Garau do último trabalho do grupo artístico LRM Performance, Memory Root Light.

Falámos com o Diretor artístico do Festival Miniere Sonore, Stefano Casta e com o grupo LRM Performance, formado por David Aladro-Vico e Berta Delgado.




 

Entrevista a Stefano Casta, Diretor artístico de Miniere Sonore

Existem festivais na Europa como Abierto de Acción em Espanha (Alicante / Murcia) especializados em performance. Por que razão sendo Miniere Sonor um festival de música eletroacústica, optaram neste evento especial por esta disciplina com LRM?

SC – Na verdade, Miniere Sonore tem por centro a música, mas o seu objetivo é procurar novas linguagens artísticas, promover as produções originais e mostrá-las ao público. Por isso, Miniere Sonore tem uma oferta heterogénea. LRM, com o seu trabalho interdisciplinar colocou em evidência um problema dialético entre diferentes linguagens (entre as quais se encontra a música) e fez dele a base estética do seu projeto e da sua investigação. É um projeto absolutamente adequado às premissas teóricas da Associação Heuristic que faz o comissariado de Miniere Sonore.

Como foi a vossa experiência com LRM?

SC – Foi uma experiência perfeita sob todos os pontos de vista. Houve um bom entendimento desde o primeiro encontro. No trabalho, realizado com grande precisão, e nos tempos livres tivemos alguns debates muito interessantes sobre arte e estética e os artistas de LRM demonstraram ser participantes perfeitos no contexto do festival. Espero que se criem novamente as condições para renovar a colaboração entre a Heuristic e o LRM.

Quanto aos aspetos mais técnicos que implica a realização de um festival deste tipo, como se resolveram os problemas de logística, organização e de colocar o evento em marcha? Contam com uma vasta equipa de profissionais?

SC - O Memory Root Light exigiu um certo cuidado pela sua complexa instalação cénica. Alguns problemas só foram resolvidos mesmo antes da apresentação, mas isso faz parte do contexto. Não obstante, procurámos organizar tudo prevendo até o último detalhe, mas há que ter sempre em conta as variáveis que se apresentam à improvisação, os problemas que têm de ser resolvidos na hora e isso determina em parte o bom trabalho da organização. O “coração” da Heuristic (a nossa associação) é composto por mim e por Lorenzo Lepori, ambos criadores do festival. Ao nosso redor há uma série de jovens profissionais que constituem o “corpo” da organização que está em permanente evolução. 

Conforme dissemos, a Europa está a adquirir um novo papel no âmbito cultural, mais realista, mais prático. Acreditam que o Festival Miniere Sonore se está a converter numa plataforma que servirá para a projeção de artistas e desse diálogo intercultural?

SC – Esse é exatamente o nosso objetivo. Queremos que o Miniere Sonore alcance um estatuto europeu a todos níveis e estou convencido de que estamos na direção correta: conseguimos mais do que uma série de resultados no que concerne a programas de hospitalidade e agora é necessário “exportar” o festival para além das fronteiras italianas. O Miniere Sonore deverá converter-se em um elo na Europa para diversas redes de trabalho e favorecer assim a produção e a distribuição das obras.

Realizar um festival com a dimensão do Miniere Sonore pressupõe ao mesmo tempo uma aventura arriscada e atrativa. Ao longo destes 5 anos de vigência e com a experiência que se acumula, que aspetos relativamente ao seu desenvolvimento se modificaram mais? Por exemplo, o orçamento?

SC – O aspeto mais importante é seguramente a modalidade de trabalho: no início eramos 3 organizadores sem demasiados contatos, enquanto hoje circulam mais pessoas em redor do Festival e há mais propostas e ofertas que chegam do estrangeiro. Também há uma evolução do ponto de vista económico: o orçamento é sempre mais importante de ano para ano mas, ao mesmo tempo, implica mais problemas sob o plano da gestão.

Que um festival se mantenha durante 5 anos demonstra uma organização bastante boa e uma inquietação artística na hora de encontrar novas formas de expressividade contemporânea. São estes os aspetos que vos fizeram conseguir o apoio de diversas instituições (Regione di Sardegna, Comune e Provincia di Oristano, Conservatorio Cagliari, Ambasciata di Spagna em Itália)? O apoio institucional é um sopro de vitalidade e, portanto, um factor de peso para continuar com o projeto?

SC – Seguramente que o Miniere Sonore é um festival bastante particular na sua conceção pois saí um pouco dos cânones a que estamos habituados e creio que estes foram fatores principais que determinaram o interesse das instituições, para além da qualidade e da novidade.

Para um festival que trata principalmente da investigação, o apoio institucional é de vital importância. O primeiro entre todos é o da região da Sardenha. Contudo, há que considerar o grande apoio privado que nos oferecem e sem o qual não conseguiríamos levar o nosso projeto avante. 

Um dos objetivos da Asociación Heruristic, que estás a coordenar, é a execução de projetos e festivais, (como o Miniere Sonore), que estejam ligados ao crescimento cultural de zonas do contexto local; por isso, observaram transformações positivas nos contextos referidos? Este tipo de festivais funciona como plataforma direta e real para que o público revalorize os seus recursos?

SC - Creio que nestes anos o Miniere Sonore teve um efeito positivo. Os três aspetos que pudémos apreciar são:

  1) A participação pontual dos músicos locais - muitos do Conservatório Cagliari - criando produções inéditas enquanto artistas residentes.

  2) A fidelização de um público que, cada vez com mais curiosidade, cresce de ano para ano e apresenta uma grande variedade de idades.

  3) A extensão da rede de trabalho, que abarca mais colaboradores de outras zonas da Sardenha.

Dentro desse contacto com o público, as suas impressões e reações; Creem que as redes sociais e o seu feedback são fundamentais para este processo de comunicação? Pode o público, através destes meios, contribuir com as suas ideias para o crescimento do Festival?

SC - De qualquer forma, o público devolve sempre um feedback em todas as ocasiões. No meu ponto de vista, o Miniere Sonore deve contribuir para criar uma atitude de abertura no público, de curiosidade, de abertura sem preconceitos aos novos trabalhos. O Miniere Sonore tem a intenção de levar os espetadores a territórios não explorados, nos quais eles possam desenhar o seu próprio mapa pessoal, sem medo de se perderem.

O festival já teve contacto com artistas ingleses, franceses e agora espanhóis; Planearam extender ligações e ramificações para outros lugares? Inclusive, fora da europa? Que mecanismos seriam necessários para isso, quem sabe algum tipo de plataforma em rede?

SC - Naturalmente, há artistas formidáveis em todo o mundo, artistas que queríamos que participassem no nosso festival com novas produções. Provavelmente na próxima edição conseguiremos ter um convidado asiático e um americano. A plataforma online é um dos projetos que está por fazer, mas muito dependerá dos apoios privados e institucionais que queiram participar agora em 2013.




 

Entrevista aos LRM Performance

Foto: Sara Sánchez

Como surgiu este contacto entre os LRM Performance e o Festival?

LRM - Conhecemo-nos através da rede social Facebook, e depois pessoalmente em Madrid, há dois anos.

Porque é que acham que vos selecionaram?

LRM - No dia do nosso encontro com o Stefano, em Madrid, entendemo-nos muito bem desde o primeiro momento. Ele é músico profissional e produtor, mas agradam-lhe as propostas que misturem disciplinas artísticas, apoia a cultura em todas as suas vertentes, e por isso considera o nosso trabalho interessante.

Em que medida ajudou a difundir o vosso trabalho? Rompendo barreiras, tal como vocês, entre as diferentes disciplinas artísticas?

LRM - Nós fomos responsáveis pela criação e elaboração do produto - Memory Root Light - com todo o esforço económico e físico que isso envolve, e que foi realizado em conjunto com a associação Heuristic - anfitriões e organizadores do Festival Miniere Sonore - para gerar o meio de condições logísticas e económicas necessário para a sua apresentação. Isto permitiu a todos levar a bom porto os nossos objetivos e completar o ciclo. Para isso, uma boa comunicação revelou-se crucial.

Para nós, esta colaboração foi muito positiva, não só porque abre possibilidades futuras na europa, como também porque nos ajuda no processo de criação. Por exemplo, permite comparar reações de públicos com diferentes origens. Na nossa opinião, o trabalho tem sido muito bem acolhido pelo seu caráter interdisciplinar, misturando música, artes plásticas e cénicas, e tanto nós como os anfitriões estamos muito satisfeitos.

Foto: Sara Sánchez

O que retiram desta experiência?

LRM -  Retiramos, antes de mais, uma boa sensação: o Stefano, o Lorenzo e toda a equipa do Miniere Sonore acolheram-nos de uma forma muito hospitaleira, além de muito profissional, e isto facilita muito o trabalho quando há tantas coisas para resolver.

Na vossa entrevista anterior, a Berta comentava que um dos vossos objetivos era o de apresentar o Memory Root Light na europa. Objetivo cumprido, ou este é apenas o primeiro passo?

LRM - É, sem dúvida, o primeiro passo; devemos mostrá-lo em mais países da União Europeia; queremos ver as reações de cada público, pois pensamos que serão igualmente positivas, tal como a do público italiano, e acreditamos que com este trabalho conseguiremos acordos futuros de cooperação para a sua apresentação, que também serão satisfatórios para todos.

Ao longo da vossa trajetória, o Oriente tem tido um papel presente (Memory Root Light). Em que medida isto se reflete na vossa obra? Pressupõe o Oriente como um espaço de abertura com muitas possibilidades?

LRM - Para nós o Oriente é uma referência, atrai-nos a sua cultura: é mais contemplativa do que a ocidental, mas ao mesmo tempo possui uma ebulição de ideias que cria um ambiente muito fresco para a criatividade, algo que o Ocidente está a perder.

Para o Memory Root Light precisámos de intérpretes de artes cénicas do Japão e de Taiwan, uma vez que incorporámos referências a culturas orientais no seu processo criativo - como elementos da ópera de Pequim, o Gagaku, ou movimentos procedentes da dança tradicional da Tailândia.

O vosso trabalho apresenta uma dualidade muito produtiva, por um lado uma enorme investigação através de materiais, sons e movimentos; e por outro, essa transformação numa experiência não narrativa, procurando a emoção espontânea. Chegámos ao fim da viagem nesta procura, ou é tão somente o ponto de partida para novas linguagens?

LRM - É um ponto de partida, naturalmente; a procura criativa nunca termina… Acreditamos que temos um processo muito interessante para a criação, porque gera associações que não se dariam de outra maneira. A música, as artes visuais e as cénicas reforçam-se mutuamente, quando se elaboram e apresentam em conjunto. Nós trabalhamos cada disciplina ao mesmo nível de complexidade, procuramos um resultado denso, um trabalho que possa ver-se e escutar-se várias vezes. Para nós, resta muitíssimo por descobrir e por criar.

Foto: Sara Sánchez

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