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Conhece o teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser!
O teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser é um projeto nascido no Porto, fruto das ideias de um grupo de amigos estudantes de teatro, e que se apoia fortemente na “liberdade e espontaneidade da criação”, tal como nos afirmou um dos fundadores, Alfredo Martins. Quisemos conversar com o Alfredo para saber mais sobre esta companhia.
Como surgiu a ideia de criar o teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser? Podes falar-nos um pouco de como tudo se passou, desde a ideia até à concretização? Quais foram as principais dificuldades?
A ideia de criar o teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser (TMV) surgiu no final de 2005, quando eu e duas amigas terminávamos a nossa licenciatura em Teatro, na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE), no Porto. Tínhamos trabalhado juntos em contexto de formação e queríamos continuar a fazê-lo profissionalmente.
Nessa altura, no Porto, começavam a surgir várias companhias jovens, compostas sobretudo por antigos alunos da ESMAE, e que mais tarde foram vistas como uma nova geração de criadores do Porto. Muitas destas companhias instalaram-se no espaço de uma antiga fábrica na Rua da Alegria (cedida pela ESMAE) e começaram aí a desenvolver o seu trabalho.
O TMV nasceu neste contexto.
Claro que as principais dificuldades foram aquelas que se levantam a qualquer jovem companhia e prendiam-se sobretudo com condições materiais de produção.
De onde surgiu o nome do teatro?
O nome surgiu de muitas horas de brainstorming e muitas hesitações. Procurávamos um nome que pudesse indicar uma ideia de movimento, também um posicionamento político e uma identidade/singularidade. Construímos o nome por um processo de adição de palavras.
Sabemos que seguem o devising como metodologia de trabalho. O que é e em que se baseia?
O devised theatre surge em Inglaterra, entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 70. O termo deriva do verbo inglês “devise”, que significa imaginar, idear, inventar, e procura ser uma designação agregadora de metodologias de criação que, ao contrário de outras mais tradicionais que partem do texto dramático, exploram vários indutores de pesquisa num contexto de criação coletiva.
Contemporâneo do movimento de contacto-improvisação, o devised theatre partilhou o clima de debate social dos anos 60 e 70, indo ao encontro de princípios de democratização da arte e abolição das estruturas hierárquicas do teatro tradicional. É também verdade que a partir dos anos 90, o termo devised theatre deixa de ter implicações tão radicais.
Como princípios comuns, estas metodologias integram uma forte ideia de liberdade e espontaneidade na criação, bem como uma relação próxima com a realidade sociopolítica e cultural do seu tempo de produção.
Imagem do espetáculo "Urbania", em Helsínquia - ©Jan Ahlsted
Que tipo de peças podemos ver do teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser? O que é que vos distingue dos restantes?
O TMV persegue uma estética performativa que possa traduzir e responder à complexidade inenarrável do mundo contemporâneo: uma estética de revelação de um estrato vivencial, pessoal, íntimo do sujeito na sua relação consigo próprio, com os outros e com o meio – uma espécie de patchwork que agrupa, organiza e formata as diversas experiências dos indivíduos enquanto seres bio-socio-culturais.
Neste momento, a companhia interessa-se particularmente pelo tema da urbanidade, compreendido no seu espetro máximo – paisagem, populações, organização do espaço e dos objetos físicos e relações entre os agentes sociais. Muitos dos seus projetos partem do reconhecimento e da experimentação radical do lugar urbano e da heterogeneidade que o caracteriza. Trata-se de perseguir uma linguagem plástica que possa traduzir uma visão sensível do mundo e das pessoas.
Os projetos desenvolvidos pelo TMV procuram também testar o papel dos agentes artísticos na mobilização política e cultural dos cidadãos, em geral, e dos públicos, explorando estratégias de participação.
Podes falar-nos um pouco do teu percurso profissional, que te levou até onde estás hoje?
Fiz formação em Teatro na ESMAE e no Dartington College of Arts, especificamente em devised theatre. Participei na 2ª edição do Curso de Encenação de Teatro do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, ministrado pela companhia Third Angel, sob direção de Alexander Kelly.
Em 2008, fiz um estágio profissional com a companhia Gob Squad, em Berlim, e em 2009, fui selecionado no âmbito do programa Inov-Art, realizando um estágio profissional com a companhia Reality Research Center, em Helsínquia.
Todas estas experiências de formação, bem como a atividade profissional de criação que fui desenvolvendo em contexto nacional e internacional, aproximaram-me de um teatro comprometido com a pesquisa, com a exploração de metodologias de criação, alicerçado num imaginário físico e visual e afastado de uma matriz literária; um teatro capaz de criar espaços de organização das nossas perceções e vivências, de reflexão sobre a nossa história pessoal, de consciencialização da nossa condição humana enquanto seres sensíveis e relacionais.
Como é trabalhar no sector das artes em Portugal, mais especificamente na área do teatro?
Este é um tema estafado, sobretudo pela persistência não só das dificuldades de produção, como pela incapacidade política de criar um programa de educação para a cultura e de sustentação das práticas artísticas consistente e efetivo.
Permanecem as políticas de apoio desestruturadas, desfocadas e “descalendarizadas”; permanece o divórcio entre políticas culturais e políticas para a educação; permanece a ideia de que a criação artística mais ou menos experimental é um sorvedouro dos dinheiros públicos; permanecem as políticas de programação desintegradas do contexto, incapazes de implementar um funcionamento em rede das estruturas de acolhimento e seduzidas pelo delírio do estrangeiro; permanece a incapacidade dos agentes artísticos encontrarem formas alternativas de produção.
É um discurso pessimista? É. Talvez consentâneo com a nossa cultura. Não é com certeza impeditivo – primeiro, de persistir na vontade de fazer; segundo, de reconhecer o incrível potencial da criação artística portuguesa.
Que objetivos tens para o teatro meia volta para o futuro? E a nível pessoal? O que precisas para atingir esses objetivos?
Continuar a trabalhar, a fazer teatro. Continuar a encontrar pessoas, a estabelecer parcerias, a explorar possibilidades de criação. Continuar a admirar-me. Continuar a sair, daqui, de mim, do país, da Europa. Continuar a encontrar desconforto (e conforto outras vezes). Continuar a procurar sustentabilidade – em tudo que isso possa significar.
Que conselhos darias a um jovem que sonhe ingressar no mundo do teatro?
Que seja íntegro e apaixonado.
Site: http://www.teatromeiavolta.com/
Página de Facebook: https://www.facebook.com/pages/Teatro-Meia-Volta/119134654848432
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